Começo por esclarecer que pouco entendo de Economia e que os meus antigos professores de Matemática podem atestar que as contas nunca se deram bem comigo. No entanto, acompanho com preocupação as notícias que dão como certo o resgate de Portugal pelo "temível" FMI.
Só oiço falar em cortes drásticos. Em empresas públicas que não têm sustentabilidade e que só alargam o buraco das contas públicas. Oiço também as referências a certos Institutos que só serviram para criar "jobs for the boys" e outros que fazem falta mas onde há directores e administradores a mais. Nos últimos anos o Estado português viveu como um multimilionário. Viveu como se o dinheiro por cá estivesse num poço sem fundo e sem perigo de terminar. Os Bancos, que hoje reclamam apoio e mais atenção, venderam dinheiro a quem não o podia comprar e, eles próprios, são os grandes responsáveis pelo crédito mal parado. Noutro tempo, perseguiam as pessoas para lhe venderem dinheiro e apelavam ao sentido consumista de cada um de nós. Nesse tempo, dinheiro nunca faltou e havia para quem quisesse.
Na Agricultura, um sector sempre desprotegido, pagou-se para não se trabalhar. Hoje, poderia ser uma das tábuas de salvação. Nas cidades, toda a gente se quis tornar empresário e...o Estado permitiu e ajudou. Abriram centenas de lojas, cafés e afins. Os negócios sem viabilidade provocaram mais dívidas e mais crédito mal parado. Tivemos (e ainda temos) um Chefe de Governo teimoso. Até a teimosia tem limites. Falar ainda hoje na construção do TGV só pode ser brincadeira de muito mau gosto. Demitir-se e querer ser eleito, depois de tudo o que se passou, só atesta que a algo não está ainda bem explicado. É mais que provável que nem sempre se disse a verdade aos portugueses.
Agora vem o resgate e depois virá o FMI mandar no país. Seremos todos prejudicados e quem vive mal vivierá ainda pior, ninguém duvide. Quem tomou essas decisões, levando o país para o estado em que se encontra, será pouco prejudicado. Os cortes salariais que sofrerão não os meterão a contar os euros para chegarem ao fim do mês.
O "Eu", que está no título deste artigo, não simboliza apenas eu próprio, mas também os portugueses que têm trabalhado nos últimos anos, têm pago os seus impostos, têm cumprido as suas obrigações para com o Estado e que agora vão pagar a crise. Já se percebeu que será a classe média/baixa a arcar com todas as asneiras que a Banca e o Governo fizeram. Já percebemos também que seremos nós a pagar esta crise que outros, de forma irresponsável e apenas olhando para os seus interesses, provocaram. São os jovens que agora estão a sair das universidades, e que não terão onde exercer a sua profissão, que pagarão também pelas asneiras dos outros. Os que isto provocaram, sairão chamuscados a nível político e social mas com a vidinha encaminhada e um futuro garantido para os descendentes. É triste e preocupante mas é verdade. Só temos uma sáida: aceitar e (sobre)viver.